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Professor Wellington Costa publica livro sobre Língua, Cultura e Gastronomia

O livro “Léxico da Gastronomia do Ceará: língua e identidade dialetal” aborda expressões cearenses que contribuem para o desenvolvimento da língua portuguesa

Publicada em 14/04/2020 Atualizada em 14 de Novembro de 2024 às 15:42

Tem caroço nesse angu. Está mais fraco que caldo de bila. É um pau de virar tripa. Essas são algumas das 92 expressões cearenses catalogadas por Expedito Wellington Chaves Costa, professor do curso de Letras do IFCE campus de Crateús, em seu livro “Léxico da Gastronomia do Ceará: língua e identidade dialetal”. A obra tem como coautora a professora Maria João Marçalo, da Universidade de Évora, em Portugal, que foi orientadora da tese que dá origem ao livro.

O professor Wellington Costa explica que o livro consiste em um levantamento de expressões da gastronomia cearense que têm produção, circulação e uso no falar cotidiano cearense. “Nós queríamos averiguar qual era o potencial de colaboração dos termos da gastronomia para o desenvolvimento da língua nas características de fala daqui do Ceará”, relata o professor. Para o pesquisador, a gastronomia consiste em um ato de socialização, isto é, as pessoas se reúnem e interagem em torno de um alimento. “Então a conversa que se produz enquanto se consome um alimento é reveladora de cultura”, expõe.

O livro se propõe a comprovar a relação entre a língua e a cultura a partir do campo social da gastronomia, considerando que seus termos contribuem para o desenvolvimento da língua. Para isso, Wellington Costa elabora um glossário com 92 expressões coletadas em dicionários de dizeres típicos do estado para verificar sua existência e circulação em livros. “Consultamos um número imenso de obras da literatura cearense e todos os registros da existência dessas palavras estão indicadas com a respectiva fonte lá no glossário, que é um dos capítulos do livro”, conta o professor.

Gastronomia e língua

Entre os exemplos citados por Wellington Costa, está a palavra tapioca. “No discurso futebolístico, tapioca entre torcedores é o nome que se dá ao sujeito que muda de preferência de time constantemente. Por causa do movimento de feitura da tapioca, se diz que ele vira de preferência, que ele muda de time com frequência”, observa. Para Wellington, a tapioca contribui assim para o desenvolvimento da língua, porque a partir dela se produzem outras expressões com diferentes significados.

A palavra caldo é outro exemplo bastante rico citado pelo pesquisador. Ele enumera diferentes expressões que não falam literalmente de comida, mas possuem outros sentidos. “Remetem à fraqueza, a partir da expressão caldo de bila. Remetem à ideia de força a partir da expressão caldo de mocotó”, exemplifica. “A palavra caldo gera expressões que saem do significado primeiro, que chamamos de significado literal, e com isso contribui para o desenvolvimento da língua porque produz expressões com outros significados para o campo linguístico”, conclui.

Pesquisa luso-brasileira

O livro “Léxico da Gastronomia do Ceará: língua e identidade dialetal” foi publicado, no Brasil, pela Pedro e João Editores. A mesma pesquisa também deu origem ao livro “Léxico Cultural da Gastronomia: Contributo dialetal e fraseológico para a linguística do português”, publicado em Portugal pelo Centro de Estudos em Letras, da Universidade de Évora.