Todos os dias, estudantes, servidores e visitantes do campus de Aracati do IFCE têm a oportunidade de exercitar a ética e o compromisso com o bem coletivo. E isso não é feito em uma sala de aula ou em um debate filosófico, mas por meio de um freezer aberto e cheio de picolés: para pegar um, basta deixar um real na caixinha que fica ao lado. Mas não há ninguém fiscalizando o pagamento, de modo que é fácil pegar o picolé "de graça".

A ideia, trazida ao campus em abril de 2016 pelo professor Mauro Oliveira, é provocar principalmente os estudantes. "Você mexe na autoestima das pessoas, porque você tá dizendo àquela pessoa que confia nela, e isso na nossa sociedade que é tão marcada pela ideia de levar vantagem em tudo", diz Mauro, que destaca principalmente o aspecto pedagógico da iniciativa.

Para quem reclama da falta de abastecimento, por exemplo, ele costuma dizer: "Nossa intenção não é vender picolés". Por isso, sempre que o número de não pagantes chega a quinze ou até vinte por cento do total de vendas do dia, o serviço é suspenso no dia seguinte. "Se a gente continuasse abastecendo o freezer sem ter nenhum tipo de reflexão, nós faríamos o mesmo que uma pessoa que sai da aula e deixa a luz acesa, por entender que aquela conta não é paga por ele. Falta a consciência de que a sociedade é que está pagando por ele".

A sorveteria de Zé William fica no primeiro andar bloco didático do campus de Aracati e funciona a partir das 9h30 da manhã, horário em que o abastecimento costuma ser feito. Diariamente, a estudante Alexandra Nascimento, do curso de Bacharelado em Ciência da Computação, informa a quantidade de pagantes e não pagantes, bem como a suspensão do serviço quando é registrado um número considerável de não pagantes. A divulgação é feita no grupo Alunos | IFCE Aracati do Facebook.

Zé de William
O idealizador da sorveteria que hoje faz sucesso no campus de Aracati foi o engenheiro e professor José de William Guedes Almeida, ou Zé de William, que elaborou a proposta em 1974. A sorveteria também já funcionou no campus de Fortaleza, em 2003, quando o professor Mauro Oliveira ocupava o cargo de diretor-geral do então Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet).