Projetos de inovação atraem profissionais para Aracati
Demandas de empresas e indústrias mobilizam também estudantes e pesquisadores
Publicada em 03/04/2018 ― Atualizada em 14 de Novembro de 2024 às 15:54

Concluir um curso superior no interior do Estado já é comum no Ceará: só no IFCE são 72 opções de graduação fora de Fortaleza, distribuídas em 31 campi e em cursos tecnológicos, licenciaturas e bacharelados. Mas os dez anos de funcionamento da Rede Federal no Brasil mudaram também a relação dos profissionais recém-formados com as suas cidades de origem. Ao invés de uma carreira em Fortaleza ou outras cidades maiores, permanecer no interior passou a ser atrativo.
Matheus Gurgel, bacharel em Ciência da Computação pelo campus de Aracati, é um bom exemplo dessa mudança. Ele chegou ao Instituto Federal em busca de uma formação de qualidade e, logo que concluiu a graduação, foi contratado para atuar em um projeto do Polo de Inovação do IFCE. “O que a gente faz é integrar uma série de funcionalidades de gestão de tarefas em uma empresa”, explica. “A inovação da proposta está justamente nessa integração, porque até agora as opções disponíveis no mercado não contemplavam todos os setores”.
Além de Matheus, outros três profissionais, nove pesquisadores e 16 estudantes atuam em projetos vinculados ao Polo de Inovação do IFCE no campus de Aracati. Ao solucionar demandas reais de empresas e indústrias nas áreas de mobilidade digital e sistemas embarcados, eles aperfeiçoam a formação recebida em sala de aula e vislumbram a possibilidade de permanecer em seus locais de origem. “É muito bom participar, porque todo dia eu tenho uma aula de como funciona o mercado de trabalho”, conta Iesus Batista, aluno e bolsista de um dos projetos.
O alto investimento das empresas demandantes gerou inclusive um movimento ainda incomum de atração de profissionais. Gabriel Lopes, engenheiro de Computação pelo campus de Fortaleza do IFCE, foi contratado pelo Polo de Inovação para atuar em um dos projetos em andamento no campus de Aracati. Ele trabalha na cidade desde novembro de 2017, desenvolvendo soluções para uma faculdade da região. “O sistema vai permitir que o professor identifique quais as melhores decisões no seu trabalho, com base em informações como a frequência do aluno, a participação dele nas aulas, se aquele aluno corre o risco de abandonar o curso...”, explica Gabriel.
RELAÇÃO COM O MERCADO
A cobrança por resultados é constante: semanalmente as equipes precisam entregar um produto e cumprir uma agenda de prazos predeterminada. Mas para garantir que a formação dos estudantes envolvidos seja priorizada, a relação com os contratantes é feita pelos professores e demais profissionais que atuam nos projetos.
“Sempre que a gente fecha um projeto a nossa preocupação é deixar claro para o empresário que os estudantes estão em formação, que eles têm uma curva de aprendizado”, diz Reinaldo Braga, professor do curso de Bacharelado em Ciência da Computação do campus de Aracati e conselheiro do Polo de Inovação do IFCE. “Por isso nós colocamos prazos mais longos, pois essa curva de aprendizado precisa ser considerada durante a execução do projeto”, destaca.
Outra vantagem da oferta de bolsas e do envolvimento dos estudantes com problemas reais do mercado de trabalho é o incentivo à permanência deles nos cursos que escolheram. “A gente já sabe que quando o aluno está vinculado a um projeto de pesquisa ou de extensão a probabilidade de evasão é muito baixa”, diz Carina Oliveira, que também é professora do curso de Bacharelado em Ciência da Computação e atua em um dos projetos em andamento no campus. “Os alunos ficam mais entusiasmados com o curso, ficam mais presentes na instituição... e tem a questão financeira também, porque muitos precisam dessa remuneração para pagar transporte, alimentação”, enumera.
PROJETOS
Atualmente, três projetos vinculados ao Polo de Inovação do IFCE são desenvolvidos no campus de Aracati. Com investimento de aproximadamente R$ 1,5 milhão, as demandas têm prazos e equipes diferentes, compostas por professores, profissionais contratados e estudantes. Os recursos são captados pela Embrapii, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial e, por meio de convênios, são repassados ao campus pela Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura (FCPC), contratada para gerir os recursos. “Essa é uma norma do Polo de Inovação: dois terços dos participantes têm que ser do IFCE e só um terço pode ser profissionais contratados”, diz Reinaldo Braga.
Uma das ações em desenvolvimento no campus de Aracati é o projeto TEAMS, iniciado em outubro de 2017, com validade de um ano. O objetivo é criar um sistema de gestão estratégica da empresa baseado na integração de tarefas. Outra demanda em execução é o projeto BENTHAM OBRAS, com prazo de conclusão para outubro de 2018. O desafio é fazer o gerenciamento inteligente do acompanhamento de obras de engenharia civil. O terceiro projeto em andamento é chamado de Teach in Touch e foi iniciado em novembro de 2017, com validade de 13 meses. Para esta última proposta, será criado um sistema de acompanhamento do desempenho de professores e alunos e diversas possibilidades de interação por meio de aplicativo, com o objetivo de deixar o ambiente escolar mais atrativo e dinâmico.